segunda-feira, janeiro 25, 2010

Porque uma cereja não cabe no meu peito. Porque você sente cócegas no céu da boca, e não te perguntam se são por causa das estrelas. Porque ninguém sabe que seus orgasmos são falsos, que seu salto quebrou, que sua meia calça rasgou. Que seu peixe se afogou. Porque o batom borrou, porque você olhou para o céu e as estrelas não encontrou. Olhou para baixo e disse baixinho "ops, engoli". E a cócega voltou! Porque riem de você quando você conta nos dedos. Porque as flores da sua saia de repente murcharam. Porque você não chegou ao fim do arco-íris e deitou a tampa do pote com o azul do céu aberta. Você não pode contar as cores, ou entrar dentro da televisão. Porque você rogou uma praga, porque você quis quem não devia. Porque você perdoou quem não queria.
Porque você esqueceu de pensar em alguém, e lembrou de pensar no ninguém. Porque você sentou no telhado com o céu quase clareado, com o salto ainda quebrado e sentiu frio. Mas não se aqueceu. Porque você deu voltas dentro de si e encontrou o vazio cheio. Porque todas suas roupas estão no varal, e também porque o varal quebrou. Porque a música dançou na aquarela dos teus dedos ao invés dos seus pés. Seus pés que choravam. Seus pés que cansaram... Suas mãos que cansaram, depois de tantos corpos terem passado. Seu olhar que cansou, sua boca que parou naquele beijo que não durou.
Porque o outono passa rápido, mas as folhas sempre teimam em grudar no seu jeans.