quinta-feira, março 04, 2010

Ela caiu. Com o focinho no chão. O impacto desmesurado emaranhou suas idéias, de repente tudo mudou e ela esqueceu-se de quem era. Estava perdida no seu próprio ser que não era. Andava por aí, cambaleante procurando pretextos e sentidos que pudessem tornar-se a resposta da única pergunta que ela se fazia incessantemente todos as manhãs: Por quê?

Procurou no bolso, na esquina, nas bocas, nas fodas, nos livros, nos sons, nas cores e no tempo. De tudo o que mais namorava era o tempo, ele estava com ela em todos os momentos, e quando se perdia era só recordar quanto tempo faltava para ela sentir qualquer coisa, e entrava em seu devaneio. Ele nunca a deixava, e conseqüentemente ela sempre o abraçava. Abraçava de todas as formas imagináveis. Seu tempo era devotado ao próprio tempo.

Tornando o resto escasso e improfícuo.

Questionava-se sempre, como seria sentir. Será que sentiria por dentro até penetrar entre sua pele de espinhos? Ou será que apenas sentiria algo que não fosse palpável ou visível. Algo que ela apenas sentiria e se realizaria com todos os sorrisos que guardara. Eu sou apenas um nada que espera por um tudo, eu poderia ir até o tudo. E não esperar que o tudo viesse até mim.

Tudo. Que tudo? Se sou nada, é provável que exista um tudo. Como posso ser um nada, eu me toco, eu me sinto. Eu sou algo. Que algo? Algo que não se sente, algo que não se toca.

Como ela odiava o céu. Como ela odiava azul. Como ela odiava. Fugia e fugia e o encontrava quando o tempo a perdia. Tragava enfadada. Estava cansada de nada. Cansada de si. Cansada do tempo. Cansada de tudo. Apenas queria surpreender-se.

Por quê?